José Cabral expõe auto-retratos

O fotógrafo José Cabral reuniu uma série de auto-retrato, que fotografou durante três décadas, numa exposição construída com "atrevimento", mas sem pretensões "narcisistas", que está patente no Instituto Moçambicano de Fotografia, em Maputo.

  O espelho é o elo comum das dezenas de imagens, nas quais o fotógrafo José Cabral, 60 anos, se materializa junto de personalidades moçambicanas, como Joaquim Chissano, Kok Nam e Ricardo Rangel, ou internacionais, como a actriz brasileira Maitê Proença. «Esta apresentação, que já estou a fazer há longos anos, é sobre espelhos, ou seja, autorretratos com amigos, fotógrafos, artistas, desconhecidos, e por onde tenho andado. É estar presente naquilo que fotografo. Uma certa intimidade, se assim se pode dizer», resume o fotógrafo José Cabral. Numa mostra construída com imagens recolhidas em Moçambique, Portugal, Brasil, Itália e Estados Unidos, Cabral quebra a máxima não instituída de que o autor se deve ocultar das suas próprias fotografias. «É um bocado atrevimento, mas também é preciso ter um certo atrevimento, porque nesta coisa de espelhos, pode-se ser considerado como vaidoso ou narcisista, mas não tem nada a ver com isso», disse. Associado à época dos grandes mestres da fotografia moçambicana, como Ricardo Rangel ou Kok Nam, José Cabral iniciou-se no meio artístico da imagem fotográfica no fim do colonialismo português, em Moçambique, em 1975, quando começou a trabalhar no Instituto Nacional de Cinema deste país. «Não aprendi fotografia a sério só com o Kok ou com o Ricardo. Aprendi com escritores, pintores, com outros artistas. Mais, até, com os que não são fotógrafos, do que com os que são», confessa. Foi no diário moçambicano Notícias que, em 1979, Cabral se tornou fotojornalista, abandonando, ainda durante a década de 1980, a profissão, por considerar que o jornalismo moçambicano se estava a tornar politicamente "dirigido". Dos tempos do jornalismo, o artista guarda a memória de profissionais comprometidos com a profissão, apontando críticas ao actual modelo de trabalho seguido pelas redacções moçambicanas. «Em Moçambique, actualmente, posso dizer que a fotografia está 'mazinha', principalmente a do jornalismo. Tenho impressão que os jornais de Moçambique odeiam a fotografia. Basta vê-los. Qualquer coisa dá, qualquer imagem serve», critica Cabral. A exposição "Espelhos Quebrados", de José Cabral, está patente até ao dia 16 de Setembro.

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