Filme: "Mulheres Africanas" em Lisboa

No próximo dia 21 de Março, será exibido no Auditório da CPLP em Lisboa, o filme “Mulheres Africanas – A Rede Invisível” do realizador Carlos Nascimbeni e Produção da Cinevideo. A projecção do filme será seguida de uma conversa/debate com alguns convidados e possibilidade de participação por parte do público. 

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Filme retrata o poder de transformação de heroínas africanas, o panorama das conquistas e lutas das mulheres deste continente no último século. Além disso, o longa celebra as vitórias das mulheres comuns que encaram os desafios do dia-a-dia com esperança e determinação. O Ciclo de Cinema “Cine-ONU / Direitos e Desenvolvimento” é uma iniciativa conjunta da Plataforma Portuguesa das ONGD e do Centro Regional de Informação das Nações Unidas (UNRIC) que teve início em 2012. O Ciclo de Cinema visa informar e consciencializar os portugueses para as questões relacionadas com o desenvolvimento, e tem exibições mensais, todas seguidas de um debate. As sessões são sempre abertas ao público, totalmente gratuitas.

Cinco representantes e pilares do continente

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“Mulheres Africanas” mostra Graça Machel, política e ativista, esposa de Nelson Mandela; Leymah Gbowee, vencedora do Prêmio Nobel da Paz; Mama Sara Masari, empresária de grande projeção na Tanzânia, Luisa Diogo, ex-Primeira Ministra de Moçambique, e Nadine Gordiner, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura. “Elas são as vozes dessa obra que ratifica a influência, o poder e a importância da mulher em um continente tão diversificado e ainda pouco explorado e o privilégio de conhecer essas histórias ajuda a desvincular os estereótipos.Como por exemplo, a Leymah Gbowee, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, como imaginar que uma mulher conseguiu a paz na Libéria? Só através da projeção de um Prêmio Nobel que é capaz de fazer com que a história ultrapasse os limites do continente” – ressalta Mônica Monteiro presidente da Cinevideo Produções. A bravura, o comprometimento com a comunidade e o meio em que vivem são essências da maioria dessas mulheres que, do norte do Egito ao sul da África do Sul, erguem-se diante das desigualdades e injustiças. Em meio às milhares de línguas, às particularidades da religião e cultura onde vivem, elas fortalecem um coro contra os preconceitos, hasteando bandeiras não apenas em causa própria, mas em causa da África. Carlos Nascimbeni, o diretor privilegiado por ter a oportunidade de interagir com mentes tão poderosas, conta que elas foram escolhidas por sua atuação nos países e pelo reconhecimento internacional “A rede invisível no título do filme é uma referência a uma grande teia formada por milhões de africanas que têm como missão prover a África e no documentário, destaco a atuação desta mulher comum que articula o tecido social africano e forma líderes locais sem as quais a sociedade não existiria”disse Nascimbeni. Luisa Diogo, por exemplo, foi escolhida pela atuação na reconstrução de Moçambique; Graça Machel, por sua história na luta pela libertação, educação e envolvimento na questão do casamento de jovens meninas; Sara Masasi, da Tanzânia, por atuar no comércio e da indústria, e ter sua voz em um país muçulmano; Nadine Gordimer, prêmio Nobel de Literatura, por ser uma grande escritora que não recuou na luta contra o apartheid, e Leymah Gbowee, Prêmio Nobel da Paz, por sua luta conta o tirano Charles Taylor e liderança das mulheres da Libéria para conseguir a paz – detalha o diretor, que começou o trabalho em 2011 e levou 14 meses para concluir a obra. Carlos fala com um carinho nítido sobre o seu aprendizado durante as entrevistas e sobre um dos momentos mais marcantes: no Mercado de Kumasi, em Gana. Na ocasião, a equipe foi autorizada pela rainha da região; caso contrário, não teria como trafegar pelo imenso mercado.

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- Em todos os locais, nosso produtor John Agyeman informava a autorização da rainha. Em determinado momento, eu me entreti com a fabricação de panelas e me perdi da equipe. Estava com uma das câmeras, e passou por mim um homem carregando um grande utensílio. A luz, a imagem, o ambiente me encantaram e saí atrás dele filmando (esta cena não está no filme). Em certo momento, ele virou-se e falou comigo, em inglês, muito bravo, perguntando o que fazia, filmando-o sem pedir licença. Eu, sem saber o que fazer, respondi apenas: Brasil; e complementei: Kaká, Ronaldo. Ele abriu um grande sorriso e foi embora. Para mim foi emocionante porque eu entendi na prática aquilo que já sabia, a enorme ligação afetiva que temos entre brasileiros e africanos.

Paradoxo: liderança e vítimas de violência

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Apesar da importância para suas comunidades e para todo o continente, elas continuam sofrendo todo o tipo de violência, abuso e sendo vítimas de atrocidades sexuais. Pergunto a Carlos por que será que os homens protegem tão pouco as suas mulheres. Apesar de toda a garra, de todo o seu ativismo, elas ainda educam seus filhos sob um ponto de vista majoritariamente machista?
Graça Machel trata indiretamente desta questão no filme quando fala do casamento de crianças. Ela diz que é preciso confrontar tradições e religiões. Dar oportunidades para que as mulheres escolham seus próprios caminhos. De qualquer forma, creio que este é um problema muito sério, especialmente em países como a África do Sul, e que certamente a mulheres têm um papel importante na solução a partir de suas comunidades, simultaneamente ao combate pelas autoridades – conta o diretor.

O futuro da África

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Os estereótipos e as muitas teorias europeias desenvolvidas há séculos sobre a África e os africanos fazem um caminho inverso às potencialidades de um continente que detém os recursos para mover o presente e futuro. A África possui as maiores reservas minerais do planeta, como o petróleo, carvão, ouro, diamantes, coltan (mineral usado na indústria eletrônica). Um dos desafios está em equilibrar a exploração e a interferência externa com líderes responsáveis e políticas sociais que cuidem bem da educação, da saúde. A instabilidade, muitas vezes, é provocada por essa interação descompromissada.

A África é a próxima fronteira agrícola. As savanas são uma promessa de produção de alimentos para o mundo todo. Há enormes reservas de água, uma população jovem e ativa, dados que, conjugados aos processos de estabilidade, eleições democráticas, reconhecidas por organismos internacionais, crescimento e produtividade, indicam para um futuro de esperança de todo o continente. Certamente este futuro não se manterá sem a atuação das mulheres, completou o diretor.

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